Zé Celso tinha Fernanda Montenegro como musa

Diretor considerava atriz “um exemplo de dedicação integral ao teatro”; leia a mensagem dela enviada a ele, antes de morrer.

(São Paulo, brpress) – A morte do ator, diretor e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, 86, nesta quinta (06/07), deixou toda a comunidade artística, principalmente das artes cênicas, consternada.

Amiga de longa data, a atriz Fernanda Montenegro – a quem Zé Celso definiu como “bruxa” do teatro brasileiro – liderou correntes de orações em prol da recuperação do diretor, que teve 53% do corpo queimado devido a um incêndio acidental em seu apartamento, no começo desta semana.

A atriz de 93 anos mandou uma mensagem para o amigo, então internado em estado grave porém estável, no Hospital das Clínicas de São Paulo:

“Querido, amado Zé Celso, todo o nosso teatro, toda a atividade cultural, humanista, do nosso país está em comunhão com você nesta hora. Você vai sair dessa crise. Sua energia é inesgotável. Você é uma força sagrada da nossa resistência criativa. Você vencerá este momento.”

Fernanda Montenegro

Zé Celso não resistiu aos ferimentos. Ele teria trabalhado de madrugada e deixado uma roupa em cima de um aquecedor, ocasionando o fogo. Numa entrevista recente a Pedro Bial afirmou que trabalharia até morrer, pois criar lhe dava vida. Há um mês, Zé Celso se casou com o companheiro, o ator e diretor Marcelo Drummond, 60.

Legado

Seu legado como fazedor de cultura é imenso, tendo criado uma linguagem teatral visceral com sua própria companhia, a Oficina Uzyna Uzona, fundada no final dos anos 50 e em atividade até hoje em sua icônica sede, no bairro do Bixiga, em São Paulo – alvo de uma disputa judicial com o Grupo Silvio Santos que já dura anos, sem resolução.  

Projetado em 1991 pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi em conjunto com Edson Elito, o Teatro Oficina, foi eleito o melhor teatro do mundo na categoria “projeto arquitetônico” pelo The Observer, o jornal dominical do The Guardian.

Inspirações

Dentre as muitas inspirações que Zé Celso teve na carreira – marcada pela prisão, tortura e exílio, durante a ditadura militar, e pela ousadia de suas montagens – o diretor tinha em Fernanda Montenegro uma musa e “um exemplo de dedicação integral ao teatro”, declarou a Pedro Bial.

“É uma mulher muito culta, escreve bem. Ela soube esculpir o teatro no corpo dela. Ela é a própria escritura do teatro. É um dos corpos mais jovens nesses anos todos. Maravilhosa”.

Zé Celso Martinez Corrêa

Em tempo: Fernanda Montenegro prefere a alcunha de “bruxa” a de “dama” do teatro brasileiro. 

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